segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Flutua

"Vinicius, por exemplo, era leve, tão leve que chegava a ser leviano na gravidade de suas paixões. Tom Jobim era leve. Vinicius e Tom eram leves e engraçados. Ser leve e ser engraçado era uma característica daquela geração".

* Affonso Romano de Sant'anna, Elogio da Leveza, em Tempo de Delicadeza.

domingo, 26 de setembro de 2010

Acaso

Para agitar a vida, passo uma semana em crise. Acordo mais cedo do que o habitual. Frio gélido na barriga. Incertezas e achismos desmerecedores. Alegria cortada por palavras que se chocam. Completando, pitada de ressaca física e moral.

Uma semana depois, o dia vislumbra céu com nuvens, mas sem precipitações. Escrevo e chego ao objetivo. Abro e livro e, não creio, lá estava o que precisava para outras linhas.

E como disse o Personare: preciso deixar a felicidade entrar, sentar e tomar conta dos rincões. Todos. Vocês me ajudam?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

Tudo esclarecido

De Alice Ruiz:

tudo esclarecido
entre as coisas
e os seus
sig
ni
ficados
o que se viveu
tá vivido
o assunto
virou passado
e o que passou

esquecido

entre as coisas esquecidas
estão as melhores lembranças
entre as coisas perdidas
estão os grandes achados

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O que me importa

A verdade

"Preciso separar o torto do direito, procurar a verdade, preciso que a verdade exista, mesmo que seja a verdade do meu mundo e do meu modo. Que não seja apenas coerência. Uma história que se feche, uma teoria que se prove, um discurso que se abra. Não falo de literatura, psicanálise ou filosofia. Todo fim é leve, por ser fim, e a leveza não tem sido meu caminho".

* Beatriz Bracher, em Azul e Dura.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Feriado pessoal


Neste feriado pessoal, tento aproveitar a falta de inquietação interpondo cochilos aos filmes de Almodóvar. Fui lá no começo, em 1978, na fase dos curtas, seguindo pelos quatro longas de estreia. Os dois primeiros trazem os ares da movida espanhola, movimento composto pela cultura alternativa, underground. Aqui, a extravagância está nas vestimentas, no cabelo, mas ainda faltam as cores e o humor já característicos.

Um melodrama e uma tragicomédia neorrealista depois, fiquei deliciado com os embriões que deram sentido a parte da filmografia amada por mim. Pelos rostos [Carmem Maura, Chus Lampreave, Marisa Paredes, Banderas], por algumas frases que estamparam películas seguintes, pelas músicas que tanto doem no coração.

O que segue até hoje, creio, é a acidez para tratar a humanidade. Uma criança de 11, 12 anos afirmando sua sexualidade, e praticando-a, se é que você me entende; outra de 14 anos traficando. Tudo tão natural e as vistas dos pais. Além disso, freiras adictas, incestos, masoquismo. Sem frases de efeito, sem moral de história. Uma vida como ela é – mesmo que nos recônditos.

Como ainda há tempo, lá vou eu seguir a maratona. Doses de Almodóvar na veia, sem precisar estar no submundo. E fazendo meu mundinho atual, recheado com um pouco de imagem, um pouco de leitura, uma pitada de calma e um desejo dilacerante de me satisfazer, mas sem me machucar.

* Imagem de Laberinto de Pasiones [1982]. Ao fundo, Banderas.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pião

Nunca deixei cair. Ele roda, roda, roda. Fica no seu eixo, passeando por de outros. A velocidade é um mero detalhe. Pensa-se que as leves sensações de queda são, na verdade, o ponto de fim, de perda. Não. São momentos de descanso e de pequeno desleixo, sem que se esqueça a hora exata de aumentar o ritmo dos rodopios.

Roda, roda, roda. Uma brisa leve revigora a pele seca, cansada. E tudo volta a correr, correr, no ritmo frenético para a bela dança dos rodopios. E, assim, tudo continua nos eixos. Sem quedas, sem fissuras. Rodando.