segunda-feira, 28 de maio de 2012


"Vivo com minhas obviedades e, enquanto escrevo, constato mais uma: a vida continua apesar de tudo, não para! [...] Somos geradores e vítimas de nossa história". (L.L.)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

sábado, 19 de maio de 2012

Todo lo que podríamos haber sido tú y yo se no fuéramos tú y yo



A gente teria uma trilha sonora extensa. Com um pouco-muito de Elis Regina, pitadas de cantores latinos, um pouco de samba conceitual, rock, pop, brega e os ritmos folclóricos descobertos na ida ao Peru, à Croácia, ao Japão. CDs pela casa aos montes, eu sempre reclamando que eles estão fora das caixas, arranhados. Você, sempre rindo, abrindo uma garrafa de vinho e mandando eu “deixar disso”, seguido de um abraço e o convite para mais uma sessão de música, dançada ou não.

A gente teria casado mesmo. Provavelmente sem pompa. Mas também nada íntimo demais. Tantos e tantos amigos. Não teria como. A ideia seria fazer na praia, mas o urbanismo e a comodidade levariam a celebração para um espaço aberto, arborizado, no meio do agito da grande metrópole. Um amigo em comum faria às vezes de padre, pastor e juiz. Eu choraria e, anos depois, ainda estaria reclamando das fotos, ou com a cara inchada, ou com cara de bêbado ou meio gordo, apesar dos quilos perdidos na preparação.

A gente teria duas televisões em casa. Quase nunca elas estariam ligadas ao mesmo tempo. Quando a escolha fosse sua, e eu não tivesse interesse, ficaria eu num misto de aperreio e dengo, fazendo comentários sem nexo, me chegando em busca de um abraço, cochilando depois dos afagos. Provavelmente, voltaria a acompanhar novelas, enquanto cozinhava – sem lavar os pratos, claro. No fim de semana, a da sala seria bem usada, nas reuniões com os amigos, que sempre acabariam com alguém dormindo no quarto de hóspedes. 

A gente brigaria pouco, sempre sem gritos – antes do esperado, você entenderia que eu odeio discutir em alto e péssimo som. As opiniões, normalmente, seriam divergentes. Mesmo assim, nos dividíamos para passar metade das férias no meu destino dos sonhos. Na outra, no seu. Nós estaríamos bem unidos e felizes em ambos os momentos, como mostraria as fotos espalhadas pelo corredor da casa.

Eu me acostumaria com as suas rugas de expressão – já que as de velhice teimariam em se esconder. Você entenderia o meu uso diário de cremes, mesmo que eles não funcionassem e eu começasse a transparecer a idade. Seria um charme, até, na sua opinião.

A gente, mesmo depois de tanto tempo, dormiria abraçado. O beijo ao acordar seria quase que nossa religião. Os olhos falariam cada palavra de amor nesses momentos. A gente seria tanta, mas tanta coisa, se a gente não fosse a gente.