segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Feriado pessoal


Neste feriado pessoal, tento aproveitar a falta de inquietação interpondo cochilos aos filmes de Almodóvar. Fui lá no começo, em 1978, na fase dos curtas, seguindo pelos quatro longas de estreia. Os dois primeiros trazem os ares da movida espanhola, movimento composto pela cultura alternativa, underground. Aqui, a extravagância está nas vestimentas, no cabelo, mas ainda faltam as cores e o humor já característicos.

Um melodrama e uma tragicomédia neorrealista depois, fiquei deliciado com os embriões que deram sentido a parte da filmografia amada por mim. Pelos rostos [Carmem Maura, Chus Lampreave, Marisa Paredes, Banderas], por algumas frases que estamparam películas seguintes, pelas músicas que tanto doem no coração.

O que segue até hoje, creio, é a acidez para tratar a humanidade. Uma criança de 11, 12 anos afirmando sua sexualidade, e praticando-a, se é que você me entende; outra de 14 anos traficando. Tudo tão natural e as vistas dos pais. Além disso, freiras adictas, incestos, masoquismo. Sem frases de efeito, sem moral de história. Uma vida como ela é – mesmo que nos recônditos.

Como ainda há tempo, lá vou eu seguir a maratona. Doses de Almodóvar na veia, sem precisar estar no submundo. E fazendo meu mundinho atual, recheado com um pouco de imagem, um pouco de leitura, uma pitada de calma e um desejo dilacerante de me satisfazer, mas sem me machucar.

* Imagem de Laberinto de Pasiones [1982]. Ao fundo, Banderas.

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