segunda-feira, 1 de novembro de 2010

É, sempre tive

Sempre tive sorte.

Sorte de ter nascido em uma família de classe média. Não precisei estudar em escola pública, trabalhar antes do tempo, sentir fome real. Tive festas de aniversário, férias em praias, dinheiro para as saídas, base para fazer meu futuro. Casa grande e pequena, cachorro, jardim na sala, passarinho perto da janela, escritório, três salas ou sala para dois ambientes, quarto para três e quarto para um.

Passei no primeiro ano de vestibular, em uma faculdade pública. Consegui estágios remunerados, fiz três cursos de língua, sonhei com cinema, jornal, internet. Tive dinheiro para xerox, bares, comprar livros. Coca, chocolate e filme no cinema. Teatro e shows. Estava com roupa nova na colação de grau, e ganhei um jantar de comemoração para amigos e familiares.

Consegui meu primeiro emprego um dia após apresentar meu projeto de conclusão de curso. Apesar dos problemas no caminho, só fiquei desempregado durante quatro meses, por opção. Apesar de salários, em minha opinião, não condizentes que o ofício, consegui obter o suficiente para o sustento de quem ainda mora na casa dos pais. E poupei o possível vislumbrando um futuro.

Sempre fui amado. Ganhei beijos e dormi abraçado com os primos, independente do sexo – e sem frescura ao ler isso, por favor. Recebi declarações de amor rasgadas dos tios. Os primos, mais uma vez, sempre me exaltaram – os tios também. Em casa, apesar da distância com os irmãos, sempre houve respeito – tirando a fase de piralha, né! O apoio dos pais sempre existiu. A cumplicidade com a minha mãe ainda perdura.

Até amigos sempre tive. Posso não ter trazido os primeiros para os dias atuais, mas os tive. E venho garimpando uns tantos nos últimos anos, e guardando todos com as forças que tenho, sem sufocar. Limpando o quadro vez ou outra, embelezando-o mais. Sempre cheio de abraços, cheio de possibilidades quando preciso gritar – mesmo que seja o meu velho grito silencioso.

Namorei, errei, guardei bilhetes, deixei no fundo do armário lembranças, mantive contato, criei abuso, senti saudade. Respeitei, apesar de tudo. Sempre, ou quase, recebi o mesmo em troca. Nunca gritei. Quando gritaram, logo recebi um abraço forte com o pedido de desculpas. Não falei meus medos, tive muitas DRs, viajei, briguei, vi as séries preferidas, as músicas selecionadas com tanto carinho. Amei e não me arrependo disso.

Aí, eu me pergunto: tem motivo para ser triste?

[continua em breve]

"Cada pinheiro é lotado de andorinha
e o joão-de-barro adora o eucalipto"

4 comentários:

  1. Quem tem um ser como vc ao alcance das mãos (ou do peito, pra um abraço apertado e generoso), não tem do que reclamar da vida.
    E mtas vezes que me sinto triste, lembro disso. Que tem coisa pra caralho que vale a pena aqui.

    (L)
    =**

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  2. é, tem coisa para caralho que vale apena aí, aqui dentro.

    =**

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  3. Oh Luquinhas, que lindo!
    Realmente "é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe", então tá certissimo! E tem mais, mesmo com o meu 2012 em 2010, eu sou feliz e tu faz parte dessa felicidade.
    Amo
    :*

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  4. até nas complicações da vida a gente precisa tirar alguns risos, né? =]

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