sexta-feira, 13 de maio de 2011

Lulu dela

[escrito ontem]

Passei o dia com palavras na cabeça. Foi só sentar aqui, veio o nó. Inventei de lembrar da última vez que nos vimos. Não teve troca de olhares. Só ela de costas, meu beijo na sua cabeça, as mãos acariciando rapidamente os cabelos lisos e grisalhos. Uma semana depois, a beijei, alisei seu cabelo, mas ela não podia mais me chamar de Lulu. Ainda bem que eu continuo podendo ser o Lulu dela.

Alzira, minha velha ou qualquer codinome que nos unisse fez as tardes da minha infância serem recheadas com vitamina de banana, tapioca feita na hora, dida chupada na calçada, para interagir com o povo da rua. Teve uma filha, criou mais um casal (minha mãe, inclusive, que, na verdade, é sobrinha). Sete netos, um bisneto. Nada de muita frescura, o carinho era do jeito dela. E todos brigavam para dormir com ela na cama de casal. Sempre.

Talvez ela seja a saudade que mais dói por aqui, dentre tantas e tantas. Um pouquinho mais sabendo que amanhã [hoje] seria de comemorar nova idade. O único choro consciente que ainda se abre no peito, no momento. E a vontade imensa de poder dizer um último (será que eu disse alguma vez?) eu te amo. Chamar de Velha, Zira, Mãe. E escutar o grito que era meu, só meu. Lulu.

“Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer”

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