quinta-feira, 9 de junho de 2011

Muito além do nosso eu


"Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim: eu o estaria lendo e de súbito, a uma frase lida,com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação: "Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus".

***

Nunca li todo. Mas A Descoberta do Mundo, de Clarice Lispector, provavelmente, é o livro que mais saiu da minha prateleira e voltou à leitura. O que tem o maior número de páginas marcadas, sem dúvida. Vez e sempre me encontro por lá. Como nesta semana. Talvez já tenha, inclusive, utilizado o excerto acima. Sem problemas. Algumas situações cíclicas são favoráveis.

Essa história de escrever um livro, traçar um rumo para a própria história, sempre cola comigo. Na semana de aniversário, então... Antes, eu fazia todo um apurado do que foi, do que eu esperava para o pós. Aí tem o tempo, as emoções (boas e más), e a gente começa apenas a esperar o minuto posterior – e pedir apenas paz para caminhar lado a lado.

Amanhã é meu aniversário e minha empolgação maior é saber que um ciclo pode se encerrar – além da felicidade por contar com abraços sempre importantes no término desta jornada. Minha vontade não é de festa – o Personare, inclusive, ratifica meu momento de reclusão. Meu motivo não é de comemorar [...]. O que fica é a esperança que essa pequena mudança traga algo maior, principalmente olhando para dentro.

Nos amanhãs, eu espero relevar mais as ausências e as falhas alheias, esperar menos, principalmente de mim. Saber que a gente quer um tempo, mas o corpo e o coração têm os seus, e eles devem ser respeitados, vividos e enfrentados. Preciso evitar o desperdício, aprender a usar meu tempo e entender quer os projetos são para execução, e não apenas planejamento.

E, independente do amanhã ou do ontem, manter sempre o amor e o sonho vivos aqui.

Um comentário:

  1. clarice dizia que o fim de um livro era como morrer e que só vivia novamente quando começava a escrever o próximo. eu espero que na tua caminhada não haja esse hiato de 'quase morte' que ela sentia. que esse livro que tu escreves seja infinito enquanto dure. tá, pode até ter uma página em branco no meio, mas é daquelas que vem só com o título do próximo capítulo.

    ;*
    (L)

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